Desde que voltei da viagem pelo Palco Giratório/Sesc que uma incrível vontade de não fazer absolutamente nada tomou conta da minha alma e do meu corpo. Virei um bicho preguiça. Tenho feito operação tartaruga comigo mesmo. Feito o mínimo necessário para manter a vida em ordem e não cair em desgraça comigo mesmo. Mas para um maluco como eu, workaholic da informação, fazer nada se aproxima muito de ler, ver, pensar e projetar coisas para o futuro. Até quando, meu Deus, vou ter forças e energias para seguir mandando minhas balas? Tive tempo, por exemplo, de assistir com a Lea à minissérie “Downton Abbey”, vencedora do Emmy e que é uma diversão inteligentíssima em seis capítulos de um novelão tipicamente inglês recheado de humor, ironia, elegância e interpretações do mais alto nível. E se Maggie Smith ganhou o Emmy de atriz coadjuvante, porque realmente dá um show, o resto do elenco não fica atrás. Surpreende até a atriz Elizabeth McGovern, agora com 50 anos e que concorreu ao Oscar em 1982 por “Ragtime”. Digo surpreende porque ela está muito interessante, embora sempre tenha dado visíveis demonstrações de inexpressividade, inclusive no filme de Milos Forman. E se o assunto ainda é cinema, achei um tempinho pra assistir com o Guhstavo ao filme dos Muppets. Uma gracinha! Com incríveis momentos de alto humor e fofura. Eu acho que o filme vai ser um fracasso no Brasil. Não é o tipo de nostalgia que embala as saudades televisivas dos brasileiros e para esses nossos tempos de cinismo descabelado, os Muppets e suas ingenuidades não são antídoto. Eu me diverti muito. Só queria que fosse legendado, mas aí era pedir demais. Da água para o vinho. O Corinthians resolveu sagrar-se campeão do brasileirão (Campeão do brasileirão? Que horrível!) bem no dia em que faleceu o querido Sócrates! Nossa, torci demais para o Corinthians. Primeiro porque admiro a seriedade do Tite, que nem sei direito se é um treinador vip; e segundo porque, oras, nadar, nadar e morrer na praia seria injusto! Chega de sofrimento em massa e por razões fúteis! E já que eu falei de futebol, o que custa dar uma opiniãozinha sobre vôlei? A seleção do Bernardinho é tão especial, tão respeitada e admirada, que mesmo tirando o terceiro lugar na Copa do Mundo de Vôlei, merece aplausos! Como disse o Woody Allen: “a gente não pode ter tudo na vida...”, e por isso é bacana demais torcer para aqueles atletas que venceram tanto! Domingo bem cedo eu pulava na poltrona, roendo as unhas e vibrando com cada ponto. Sei lá como anda a relação interna do Bernardinho com o time, mas... Do vinho para o azeite. Prêmios? Começaram a pipocar os prêmios para o cinema americano. Começo a ficar irritado. Por quê? Alguém pode me dizer porquê a Meryl Streep é tão fantástica? Ela desponta novamente com uma super interpretação da Margareth Tatcher em “The Iron Lady”, já ganhou o prêmio de atriz no Círculo dos Críticos de Nova Iorque e lá estou eu, de novo, torcendo para que ela ganhe seu terceiro Oscar. Sei que não vai ganhar, que sempre vão achar alguma atriz para premiar, seja lá por qual razão, mesmo ela sendo a melhor do ano! Mas fico torcendo! Que fazer? E me irrito quando ela perde, como aconteceu há dois anos quando deram o Oscar para o poço de mediocridade que era o trabalho da Sandra Bullock, enquanto a divina Meryl destruía numa composição perfeita em “Julie & Julie”! Fazer o quê? Bem... prêmios... dizem de tudo, menos de tudo... E a temporada do Oscar promete: “Hugo”, do Martin Scorsese, “The Artist”, “We Need To Talk About Kevin”, “The Help”, “Tinker, Taylor, Soldier, Spy”, “Shame”com o maravilhoso Michael Fassbender, “The Descendants”, “J. Edgar” do Clint, com o Leonardo, “War Horse” e “Tintim”, do Spielberg, “My Week With Marilyn” com o Keneth Branagh interpretando Sir Laurence Olivier! É de tirar o fôlego? Será que vai sobrar alguma indicaçãozinha para o Woody e seu magnífico “Midnight in Paris”? Do azeite para a merda. O Ministro do Trabalho finalmente pediu demissão. Sabe o quê? Não vou falar disto...!
A ETERNIDADE E UM DIA - Edson Bueno
domingo, 4 de dezembro de 2011
sábado, 3 de dezembro de 2011
Três meses depois!
Foi, sim, uma longa viagem. Que começou em Guaramiranga, na região serrana do Ceará e terminou em Poconé, cento e poucos quilômetros de Cuiabá. Minas Gerais, Ceará, Rondônia, Espírito Santo, Piauí, Alagoas, Paraíba, Pernambuco, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Amapá, Tocantins, Mato Grosso... Uma aventura de teatro que bem poderia virar um roteiro de cinema, bastando que se acrescentasse aqui e ali alguns elementos de pura ficção e, quem sabe dourando a pílula de outros acontecimentos inusitados. Eu imagino que seria um filme sobre a arte e seus significados, alguns mais importantes, outros menos, conforme o artista e conforme o público. Porque posso garantir, de experiência vivida, que, literalmente do Oiapoque ao Chuí, nossos brasileiros vêem a mesma coisa de formas muito diferentes. E isso é rico e é impactante. E pude vivenciar em sangue e carne, essa vivência, tanto como autor, quanto diretor e quanto (mais que tudo!) ator. Num espetáculo tão aberto quanto “O Evangelho Segundo São Mateus”, houve momentos em que nunca tinha a noção clara do quanto teatro é mensagem, história, catarse, diálogo, forma ou conteúdo. O que dizemos? Para quem? Qual a prontidão de nossos ouvidos? Até que ponto o olhar do artista está conectado ou desgarrado do olhar do público? Quando ainda não era ator desse espetáculo e o assistia emocionado, sempre tive a perfeita noção de que se nunca mais fizesse teatro, teria (dramaticamente) cumprido minha parte. Porque tudo o quanto acredito em termos humanos, é nesse suave e simples espetáculo que coloquei. Depois de 54 espetáculos pelo Palco Giratório do Sesc, sei que esse exercício “demasiadamente humano” é um vórtice de contradições e paradoxos. Porque nem sempre “ama a teu próximo como a ti mesmo” é mais importante que tudo. Mesmo que num esforço de direção (minha) e interpretação (dos atores) todos os cuidados tenham sido tomados para que a palavra abocanhasse o público. Foram três meses onde a fugacidade deu as cartas. Onde o momento presente nunca precisou ser tão acarinhado (como pediu Caio Fernando Abreu), porque mais que sempre, o presente transformava-se em passado num rotineiro check-out de hotel. E quantos foram, meu Deus! Quantos aeroportos, quantas estradas, quantas cidades, quantas pessoas, quantos beijos, quantos abraços, quantos climas e paisagens... e culinárias! Quantos alvoreceres e quantos pores do Sol! Parecidos sim, mas diferentes em emoção conforme a chegada ou a partida. Três meses depois alguns laços de confiança se estreitaram, algumas paixões artísticas viraram obsessão, algumas saudades do que poderia ter sido vivido com maior intensidade, não fosse tão rápida a passagem. Três meses depois algumas certezas viraram incertezas e outras se transformaram em simples poeira no tempo. Três meses depois de dezenas de quartos de hotéis, a certeza de que um “quase tudo”, de verdade, aconteceu! Desde a mais frágil futilidade, passando pela mais engraçada vulgaridade, até a mais complexa sutileza e a mais profunda experiência de vida! Três meses... um hiato! Três meses e um caminhar cuidadoso e às vezes irresponsável pela corda bamba do sonho e da utopia. Pra terminar este post sem muito sentido, uma citação de Fernando Pessoa, que nos acompanhou como eterno amigo e companheiro nesses três meses:
“Quando vier a próxima estação,
Se eu já estiver morto - por exemplo -
As flores florirão da mesma maneira,
E as árvores não serão menos verdes que na primavera passada,
A realidade não precisa de mim.
E eu sinto uma alegria imensa,
Em pensar que a minha morte
Não tem importância nenhuma!”
E também, como diria aquele que ninguém pode garantir direito se é realidade, mito, ficção, pura invencionice, crença ou necessidade:
“Ama a teu próximo como a ti mesmo!”
Três meses depois, a vida continua... e o nosso amor pelo teatro!
PS: A foto é do amigo e jornalista Edson, do site Cidade Rosa, de Poconé... nossa última apresentação no Palco Giratório/Sesc.
sábado, 12 de novembro de 2011
Almodóvar...
No dia 7 de outubro entramos, eu e o Grupo Delírio, em um avião com destino a Campo Grande, no Mato Grosso do Sul e já lá se vão 35 dias e ainda não demos as caras por Curitiba. Já andamos por Minas Gerais, Espírito Santo, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Amapá e agora estamos no Rio Grande do Sul. A longa viagem do nosso “Evangelho Segundo São Mateus”, pelo Palco Giratório do Sesc ainda passará pelo Rio de Janeiro, Tocantins e Mato Grosso. Depois, no início de dezembro, de volta para Curitiba. É verdade, voltaremos outros, mexidos e remexidos, plenos de aventuras de todos os tipos, plácidos e violentos, apaixonados e amantes, artistas e descobridores, um pouco sociólogos, antropólogos, talvez... filósofos. Fato é que algumas âncoras vão dando a sensação da realidade, aquém do sonho, aquela que nos diz: “olha, Curitiba, você, fique atento à sua história...!” Ainda bem que são realidades lúdicas, que tratam das nossas delícias, nossas felicidades clandestinas. Como aqui em Porto Alegre, onde fomos eu, o Gustavo e o Tiago, assistir “A Pele Que Habito”, o novo Almodóvar. Almodóvar que não cansa de pensar a vida e suas múltiplas possibilidades sexuais. Almodóvar que viaja pelo inconsciente, mais do que no sonho, no desejo; naquilo que temos de mais secreto, incapaz de se realizar, senão por um preço alto demais. E esse gênio da vida, que visitou Douglas Sirk, Joseph L. Mankiewicz, Tennesse Williams, Pina Bausch e Hitchcock, resolve agora brincar de Fritz Lang e, mais do que tudo, outro gênio: James Whale! Ah, James! Você que criou Frankenstein e a sua noiva, deve estar orgulhoso de Almodóvar! Com seu espírito humano e revolucionário, deve imaginar que mundo é este onde o homem e o monstro são tão parecidos e por que lutam tanto um com o outro? Talvez a grande sacada de Almodóvar é a que nunca encontra respostas, mas se enche cada vez mais de perguntas. Afinal, quem somos nós? Por que temos tanto medo? E do quê? Nossos pesadelos falam mais de nós mesmos que nossos sonhos e nossas ações. Grande Almodóvar, esteta magnífico, poeta/pensador contemporâneo, que devolveu dignidade a Antonio Banderas e dá à Marisa Paredes mais uma oportunidade de mostrar seu talento e seu histrionismo. “A Pele que Habito” é daqueles filmes que logo após terminar, nos dá vontade de ficar para a próxima sessão. Curtir o Frankenstein de Almodóvar, que não é a coisa inventada com pedaços mortos, mas a coisa criada e recriada com os próprios pedaços, mosaico de carne viva, sedenta de prazer! Almodóvar, como Woody Allen e Tarantino são minhas felicidades clandestinas!
quarta-feira, 2 de novembro de 2011
O que corta o coração…
Longe, estou muito longe. Longe de Curitiba. Em Maceió, enamorado do mar mais lindo, esparramando-me em frutos do mar de todos os tipos, sob um sol de fantasia, dormindo um sonho de artista que viaja, viaja, viaja, e que (de coração) não sente vontade de voltar pra sua terra. Só sente vontade de continuar indo, como se existisse ainda tanta geografia pra ser explorada e tanto teatro pra apresentar “O Evangelho Segundo São Mateus”. E o contato com a frieza do clima curitibano é o Áldice, que conta dos poucos graus curitibanos, da chuva, do Speechless, meu cachorricho, da amiga Léa, do que me espera na volta que (talvez) ainda vai acontecer só em dezembro. Mas nesta quarta-feira, eu no quarto do hotel, 17h30, toca o celular e eu atendo. É, mais uma vez o Áldice; e assim, suavemente, como tem de ser, ele me conta que há uma semana faleceu a Rosirene Gemael. Ai. Jornalista de tantas histórias e tantos encontros. Falamo-nos muitas vezes por conta de nossos ofícios e trabalhamos juntos durante quase um ano na TV Educativa, quando eu participei do “Enfoque”, de muitas saudades. Rosirene sempre me foi tão doce, tão carinhosa, tão explicitamente colega. Depois, quando ela escrevia um livro sobre a Lala Schneider, tivemos outros encontros. E eu fico sabendo de sua morte uma semana depois dela. Ok. Me dói demais. Há uma semana eu estava tão longe quanto hoje, em Arcoverde, Pernambuco; mas sei lá, gostaria de ter me despedido dela. Gostaria de ter derramado algumas lágrimas, como derramo agora, tardias. Quando morre alguém tão querido, o tempo fecha e as nuvens escondem o sol, mesmo que por alguns minutos. E, assim, do nada, lembro da primeira vez que encontramo-nos, no extinto diário “Correio de Notícias”. Rosirene ativa, vibrante, plena de jornal. Ai. Que dizer? É preciso dizer? Sei lá, mas é preciso deitar-me, fechar os olhos e pensar/viver um adeus silencioso, aquele que repassa na memória cada encontro, cada palavra trocada, cada profundidade de olhar, cada esperança e cada paixão vivida. Paixão pela cultura, pela arte, pelo significado das coisas. Adeus, minha amiga, adeus. Triste saber que vou voltar pra Curitiba em dezembro e não vamos nos encontrar em qualquer momento. Adeus, querida. E aí, uma fala simples do Tom Jobim, que me inspira na sua saudade:
“Quando uma árvore é cortada ela renasce em outro lugar. Quando eu morrer quero ir para esse lugar, onde as árvores vivem em paz.”
segunda-feira, 31 de outubro de 2011
Feijão com arroz
Selton Mello é um artista tão especial que dá até um aperto no coração falar alguma coisa não muito positiva de um filme seu. E eu, que gostei tanto de “Feliz Natal”, por exemplo. E lá fui, em Petrolina, assistir “O Palhaço” seu segundo longa. É sim, um filme cheio de boas intenções, carregado de ternura e quase um oásis na “idiotice da objetividade” que perspassa o cinema brasileiro. É também um acariciamento de amor ao cinema e aos atores. Pois é, mas é básico, surpreendentemente primário, apesar de uma fotografia deslumbrante e uma trilha sonora que dá o tom exato, seja emocional ou rítmico, a cada passagem. Assistindo “O Palhaço” tem-se a impressão de que o cinema foi inventado a menos de uma semana. Que ainda virão, daqui oitenta anos, Chaplin, Fellini, Spielberg, Glauber Rocha, Bergman, Hitchcock, John Ford e tantos que ensinaram como se faz um filme. “O Palhaço” procura, sem saber direito em que lugar, um espírito de Chaplin, de Buster Keaton, de Fellini... até de Mazaroppi, mas nunca consegue aprofundar-se um centímetro sequer, nem nos personagens, nem na trama, nem no próprio cinema. E olha que alguns planos são lindos e o filme capricha em participações especiais que são um primor, particularmente a de Moacir Franco que dá um show! Buscando um cinema puramente emocional e muito popular, Selton Mello apenas ouve o galo cantar... e, perdoem a amargura, mas como ator ele tem repetido demais os tiques e cacoetes que fizeram dele um ídolo da televisão. Funciona, sim, funciona, mas para quem tem preguiça de rir ou se emocionar com algo novo, original, e prefere o que já está codificado pela novela das sete ou pelos especiais engraçadinhos depois da novela das nove. “O Palhaço” faz de conta que quer falar de alguma coisa, mas se perde num roteiro frágil e num excesso de planos inúteis. Cinema é imagem, sim, mas elas têm que ser tão ou mais fortes que as palavras que, por elas, são trocadas.
sexta-feira, 28 de outubro de 2011
Poster que vale a pena postar!
Marilyn Monroe está de volta, linda e deslumbrante na interpretação de Michelle Williams!!! E dizem que Kenneth Branagh vai ser indicado ao Oscar, na interpretação de Sir Laurence Olivier!
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