segunda-feira, 11 de julho de 2011

A VIDA É SONHO


Leio uma belíssima entrevista de Diogo Vilela no Globo.com. O mais bonito é ler a sua reafirmação da beleza que é o teatro e da certeza de sua importância na sociedade. E tem gente que nunca foi ao teatro e nem tem ideia do que seja. Um irmão de um amigo meu, super executivo de uma multinacional me disse uma vez numa churrascada: “Nunca fui ao teatro e nem vou. Vivo muito bem sem ele!” Não tenho dúvidas. Mas esse super executivo, claro, não contou toda a verdade. Quando vai à New York ele tira duas ou três noites para assistir aos musicais (Lion King, Billy Elliot, Spider-Man, etc...). Ultimamente não precisa ir tão longe, São Paulo e Rio de Janeiro têm se ocupado em apresentar as cópias (quase) fiéis dos musicais. Mas meu amigo prefere assisti-los em inglês: “é mais chique!” Agora voltando ao Diogo, um ator fantástico, maravilhoso e que nos deu no teatro algumas das interpretações mais poderosas de nossas vidas. Lembro de uma que a qual assisti arrepiado inteiro, “Diário de Um Louco”, de Gogol. Inesquecível! Diogo fala que a profissão de ator morreu. Que ator virou uma função. “A minha profissão acabou. O ator morreu. Virou uma função. Foi vitimada pela modernidade. O fim do século XX, a chegada do XXI e a força que a tecnologia assumiu reafirmaram o fim da necessidade dos relacionamentos afetivos e sociais. As pessoas não têm mais a obrigação de serem afetivas. É uma visão pessimista, eu sei. Mas vejo essa virtualidade como um corte na capacidade de afeto. Estamos metabolizando muito bem a desumanidade, e isso me faz pensar: "Quem iremos nos tornar?". Eu tenho essa preocupação romântica. Tenho medo de a minha profissão não ter mais significado. Ela está perdendo sentido, as pessoas se comportam como supostos artista e isso passa batido. Tudo é suposto. E eu sempre me coloquei como autor em cena. Mas não quero ser encarado como anacrônico ou reacionário...Esta talvez - vejam bem, estou dizendo talvez - seja uma preocupação de alguém que chega aos 50 e percebe as grandes transformações nas relações humanas. Qualquer sujeito que sai de casa e vai ao teatro, o faz em busca de contato humano. Mas que contato humano o sujeito pode ter assistindo, por exemplo, “O Despertar da Primavera”, musical vencedor do Tony e recentemente encenado no Brasil? Nenhum. O show tomou o lugar da reflexão profunda e humana de Wedekind. Tudo virou uma, digamos assim, “Malhação” de época, reduzido ao mínimo denominador comum para caber em qualquer gaveta. Resta a performance e isso só reafirma o que disse o Diogo: “O ator virou uma função.” Aos cinquenta anos é quase impossível ser romântico, é complicadíssimo acreditar em ideologias políticas, a realidade bate em nossa porta com uma frequência assustadora. Aos cinquenta anos a solidão começa a virar companheira e as palavras parecem cada vez mais repetitivas. Continua Diogo: “Com a chegada do >ita<reality e da sociedade do espetáculo, a dramaturgia, que sempre levou o ser humano a pensar suas particularidades, ficou menos seletiva e mais expositiva, preocupada com o espetaculoso, distante das questões humanas. Para mim, que cresci na profissão em meio à ditadura, acho que o teatro precisa lidar com as grandes questões do ser humano. Me sinto um peixe fora d'água. Tenho pavor de a minha profissão acabar.” Acho que temos todos, nós artistas. Mas a sensação pior é, de verdade essa, a de “acabar”. Porque a vida exige “jogo rápido, língua ligeira e olhos arregalados”! É preciso afundar-se no teatro, eis a resposta que me vem, assim do nada! Afundar-se. Acreditar que o espetáculo ainda é o homem e que ele precisa, cada vez mais, pensar sua condição. E de resto? A fila anda, as horas passam e tudo se transforma. Hoje, aqui em Passo Fundo, comprei um livro, “Ficção de Polpa – volume 2”, uma coletânea de contos fantásticos. Na primeira página uma citação de Ray Bradbury: “Qualquer coisa que você sonhe é ficção, e qualquer coisa que você alcance é ciência. Toda a história da Humanidade não é nada além de ficção científica." Diogo diz que escreveu uma peça de teatro de ficção científica. A história de um homem que ganha o prêmio Nobel porque descobriu a fórmula da juventude eterna. A peça é o sonho...

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