segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Feijão com arroz



Selton Mello é um artista tão especial que dá até um aperto no coração falar alguma coisa não muito positiva de um filme seu. E eu, que gostei tanto de “Feliz Natal”, por exemplo. E lá fui, em Petrolina, assistir “O Palhaço” seu segundo longa. É sim, um filme cheio de boas intenções, carregado de ternura e quase um oásis na “idiotice da objetividade” que perspassa o cinema brasileiro. É também um acariciamento de amor ao cinema e aos atores. Pois é, mas é básico, surpreendentemente primário, apesar de uma fotografia deslumbrante e uma trilha sonora que dá o tom exato, seja emocional ou rítmico, a cada passagem. Assistindo “O Palhaço” tem-se a impressão de que o cinema foi inventado a menos de uma semana. Que ainda virão, daqui oitenta anos, Chaplin, Fellini, Spielberg, Glauber Rocha, Bergman, Hitchcock, John Ford e tantos que ensinaram como se faz um filme. “O Palhaço” procura, sem saber direito em que lugar, um espírito de Chaplin, de Buster Keaton, de Fellini... até de Mazaroppi, mas nunca consegue aprofundar-se um centímetro sequer, nem nos personagens, nem na trama, nem no próprio cinema. E olha que alguns planos são lindos e o filme capricha em participações especiais que são um primor, particularmente a de Moacir Franco que dá um show! Buscando um cinema puramente emocional e muito popular, Selton Mello apenas ouve o galo cantar... e, perdoem a amargura, mas como ator ele tem repetido demais os tiques e cacoetes que fizeram dele um ídolo da televisão. Funciona, sim, funciona, mas para quem tem preguiça de rir ou se emocionar com algo novo, original, e prefere o que já está codificado pela novela das sete ou pelos especiais engraçadinhos depois da novela das nove. “O Palhaço” faz de conta que quer falar de alguma coisa, mas se perde num roteiro frágil e num excesso de planos inúteis. Cinema é imagem, sim, mas elas têm que ser tão ou mais fortes que as palavras que, por elas, são trocadas.

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Poster que vale a pena postar!

Marilyn Monroe está de volta, linda e deslumbrante na interpretação de Michelle Williams!!! E dizem que Kenneth Branagh vai ser indicado ao Oscar, na interpretação de Sir Laurence Olivier!

Só um milagre,,,


Os Irmãos Farrely encararam a empreitada de (re)inventar OS TRÊS PATETAS... O filme está quase pronto e estreia em abril de 2012. Saiu a primeira foto oficial. Que os deuses do cinema digam amém, porque, salvo melhor juízo, só um milagre...

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

PAN!



Perigo! Perigo! O Brasil tem 39 medalhas de ouro e cuba 37, ou seja, o nosso Segundo lugar está ameaçado pela pequena ilha caribenha. O Juca Kfouri alerta e acrescenta ainda que Cuba tem bem menos investimento em esportes e está mandando bala no pan. E eu aqui fico pensando: e daí se Cuba passar nossas medalhas de ouro e for o segundo lugar? E daí se formos o terceiro ou quarto? E daí? Ok! Cuba tem um esporte exuberante, mas Cuba tem uma imprensa exuberante? Um teatro exuberante? Uma literatura exuberante? Uma televisão exuberante? Um cinema exuberante? Tem nada! Claro, um país onde o pensamento livre é um crime, o único investimento tem que ser mesmo no esporte, onde a opinião e a poesia não têm qualquer espaço de vida. Não é preciso ter ideias e pensar livremente para correr muito, encaçapar bolas em aros, levantar pesos ou dar golpes de boxe ou judô. Perigo! Perigo! Viva o Pan e viva as nossas 39 medalhas de ouro, as nossas 25 de prata e as nossas 45 de bronze !

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

A SELVAGERIA


 As imagens do ditador Kaddafi, preso, ensangüentado, sendo praticamente linchado e depois morto com tiros na cabeça e no peito, humilhado e desumanizado (ou humanizado) são realmente chocantes e dão a medida clara de quem somos nós. Que a civilização, por mais que siga seu rumo em direção a algum tipo de compreensão da própria fragilidade e beleza, tem muito ainda a caminhar, muito ainda a evoluir. Andei assistindo à minissérie britânica “Dowton Abbey”, um novelão que é um primor de humor fino, crítica social e observação dos modos e costumes. Todo mundo, de criados a aristocratas, são elegantes, educados, finos e limpos. E nas entrelinhas ainda se pode ver a sujeira e a hipocrisia. Mas ainda assim, aquela limpeza mandava seus soldados cometerem as maiores carnificinas nas colônias inglesas espalhadas pelo mundo. O ser humano é digno de lástima, como disse Strindberg. Mas voltando a Kaddafi, uma das figuras mais desprezíveis de nossos tempos (mas não o único!) foi um assassino monstruoso que nunca hesitou um instante sequer em mandar suas tropas torturarem, assassinarem e exterminarem seus opositores. Tratou a sua própria gente como lixo descartável. A história recente é cheia desse tipo de selvageria, que no meu modo de ver, é tudo farinha do mesmo saco, desde Hitler e sua matança sádica e incompreensível: as bombas de Hiroshima e Nagasaki, o assassinato de JFK, o massacre de Ruanda, o 11 de setembro, o fim do ditador Sadhan Hussein, a execução do ditador comunista da Romênia e a jararaca da sua mulher, os assassinatos capitais determinados pelas ditaduras comunistas depois das revoluções (Russia, Cuba, Tchecoslováquia, China etc.), os extermínios da Iugoslávia, as torturas e assassinatos cometidos no Chile, Argentina e Brasil na época das ditaduras militares, a violência dos traficantes e milicianos espalhados pelas favelas brasileiras, a ação dos coronéis do Nordeste, deixando morrer à míngua a população miserável e vítima da seca, os prefeitos espalhados pelo Brasil que roubam o dinheiro destinado à saúde, educação, merendas escolares, o assassinato de Chico Mendes e outros líderes populares na Amazônia, etc.... Enfim, seria preciso um exercício infernal de crueldade para listar a marcha da civilização e suas atrocidades. Acontece que em nossos tempos tudo é filmado, registrado e escancarado, então que fica difícil escamotear a nossa selvageria por trás dos perfumes e da aparente civilidade. Somos uns monstros! Acredito que sim, nenhum homem é uma ilha, nenhum homem pode se isentar de algum tipo de responsabilidade, seja por omissão ou nas pequenas e selvagens ações que tomamos a cada dia, fazendo de conta que elas não interferem no universo. Hoje mesmo, conversando com uns amigos, felizes, divertidos, que brincam e vivem a vida com poesia e festa, perguntei-lhes sobre Kaddafi. Todos responderam: quem? E, pra mudar de assunto e tratar de algo mais leve, perguntei-lhes sobre as medalhas brasileiras no pan-americano. E, eles: quê? Rs. Só voltando ao ditador assassinado com requintes de selvageria descontrolada. Tenho vontade de rir quando ouço que a ONU pede investigação sobre as circunstâncias de sua morte. Claro, é preciso borrifar um pouco de perfume sobre o óbvio, porque mais importante que ser honesto, é parecer honesto. E o Kadaffi? Como culpar um povo tão humilhado, tão massacrado, tão roubado, tão ofendido? Melhor virar a página e esperar pela próxima selvageria exibida em vídeos amadores na internet ou no jornal da TV. E creiam, aquela que acontece no outro lado da rua não é muito diferente!

sábado, 15 de outubro de 2011

Leon...


 Como é difícil falar da tristeza que senti ao receber a notícia da morte de Leon Cakoff. Tinha por ele a mais profunda de todas as admirações. Só o vi uma vez, pessoalmente, na inauguração do Unibanco Arteplex, no Crystal em Curitiba. Naquele dia assisti “Má Educação”, do Almodóvar. Leon. Ano passado, curtindo a raspa do tacho da Mostra de Cinema de São Paulo, cinco horas no Cine Livraria Cultura, “Carlos”, de Olivier Assayas, agradecia aos céus por ele existir, sonhar, inventar, propor, ousar e carimbar a necessidade do cinema como alimento tão necessário, qual água, arroz, feijão, batata, carne, amor e sexo. E agora é a hora de dizer adeus. Ai. Que é da arte, da aventura e da loucura, sem seus ousados heróis? A morte de Leon Cakoff é um golpe profundo no amor ao cinema, uma desesperança... Claro, o cinema segue e agora tem um anjo da guarda em outra dimensão. Deveriam erguer uma estátua ao Leon, em frente ao mais importante cinema de arte do Brasil. Qual? Aquele que insiste em buscar beleza onde ela está mais escondida. Puta saudade!

Ando com a minha cabeça...



Sorry! Há tempos que não atualizo o blog. Mas acontece que a viagem pelo Palco Giratório/Sesc tem sido uma loucura. É tanta coisa nova, tanta experiência diferente, que sobra pouco tempo pra pensar, escrever, manipular (doce ou ironicamente) as palavras e dizer o que se pensa. Quase sempre só dá vontade de pensar e deixar que os pensamentos morram naturalmente, dormidos e sonhados de uma noite para a outra, sem a pretensão de transformá-los em frases. As ideias libertam ou escravizam, conforme a situação! De hotel em hotel, de cidade em cidade, de teatro em teatro, grandes vôos (Tam, Gol, Trip, Avianca...) e grandes platéias. Muita emoção! Um dia em Porto Velho, dois dias depois em Campo Grande, mais dois em Belo Horizonte e Ouro Preto (a cidade mais emocionante do Brasil!), mais um aeroporto e Vitória e amanhã bem cedo (06h40) um salto para João Pessoa. Em quatro cidades mais ou menos mil pessoas assistiram ao nosso “Evangelho Segundo São Mateus”, uma celebração, um encontro de tanto carinho e tanta admiração que nós temos partido delas com vontade de voltar amanhã. Em Belo Horizonte alguém disse: “Dá vontade de ir embora com vocês!” E isso é uma constante. E nos intervalos do teatro, que fazer? Ando lendo, quase no fim, “Um Dia”, do David Nicholls. Inspiração do Leandro Knopfolz e que foi bem difícil no começo, porque o estilo do cara é meio superficial e com uma tendência ao engraçadinho que parece nunca acalmar. Mas com o passar das páginas, a inspiração humana de falar de quem é apenas simples e pouco especial, vai tomando conta da narrativa e quando as humanidades afloram com suas esquisitices, patetices, estranhezas, risos e dores, tudo fica muito gostoso. O que acontecerá com Emma e Dexter? As próximas páginas dirão. E cinema? Ai, que falta me faz. De um Cinemark a outro, temos que admitir os blockbusters. Fui assistir “A Hora do Espanto”, refilmagem de um terror/terrir que assisti há bem uns vinte e cinco anos, tom direção do Tom Holland, com Chris Sarandon e Roddy Macdowall. Nessa nova (velhíssima!) versão, com vontade fajuta de ser teen, mas parecendo múmia, o vampiro de Chris é vivido pelo Colin Farell, cheio de charme, mas sem um décimo da ambigüidade do original. O que o primeiro tinha de frescor, charme, terror e graça, este novo tem de obviedade, chatice e redução. Uma bomba em 3D, que é puro desperdício de sangue e caninos. E ontem, sem a menor empolgação, fui ver, também em 3D, os “Três Mosqueteiros”de Paul W. S. Anderson, o diretor de mais de um “Resident Evil”. Pois não é que me surpreendi? É divertidíssimo e muito belo. Tudo funciona e se o roteiro comete algumas traições fatais ao original de Alexandre Dumas, algumas invenções em nome da ação, da aventura e do espetáculo funcionam muito bem. É jogar a fantasia pra cima e recolher como chuva de serpentinas e confetes! Muito legal! Claro, Milla Jovovich nunca faz uma Milady de Winter pérfida e ambígua, minimamente aceitável (nostalgia de Lana Turner - a melhor! - na versão de 1948 e de Faye Dunaway, na de 1973), mas Athos, Porthos e Aramis mandam demais e se Logan Lerman é muito piá para um Dartagnan tão impetuoso, o guri se diverte e faz de conta que é decidido. O filme é ótimo e uma surpresa. Sessão da tarde que pede pipoca e refrigerante. E? Bem... Leon Cakoff, Ruth Escobar, Miss Maggie Smith, o Ministro dos Esportes, o José Carlos Fernandes, Guhstavo Henrique, Thiago Inácio, Áldice, Speechless e tanta coisa pra falar, chorar, admirar, acariciar, saudar e aplaudir. Vamos escrevendo e viajando...