quinta-feira, 30 de junho de 2011

Nada como a era Medieval... ou, ai que saudade do Torquemada!


Lá pelos idos de 1986, estávamos eu e uns amigos tomando cerveja e conversando num bar da Saldanha Marinho (que já não existe mais!), quando o dono aproximou-se e convidou-nos a sair. "Esse não é um ambiente para vocês", ele disse. Era o momento certo para armar um escândalo e jogar tudo pra cima. Mas eu e meus amigos pagamos a conta e saimos. Foi tudo muito simples, direto e compreendido nas entrelinhas, mas ficou marcado na minha memória como uma daquelas experiências que determinam a humanidade e o seu significado. Eu, que aos 18 anos, numa profunda reflexão decidi que nunca, jamais, em tempo algum alimentaria qualquer tipo de preconceito. Vinte e quatro anos depois muita coisa mudou no Brasil, quase todas para melhor. E o intenso debate sobre os direitos civis preenche as discussões e a mídia explora cada possibilidade de populismo. Quem somos nós? No que acreditamos? O que esperamos uns dos outros? Como nos vemos? E quando vamos conseguir, seja via família, escola, imprensa, literatura, cinema, televisão, teatro, música ou seja lá o que, ver as coisas que estão distantes pelo menos um palmo de nossos narizes? Os assuntos em pauta relacionados ao casamento entre homossexuais, a cartilha anti-homofobia e até a lei anti-homofobia, obrigam, em último caso, a que todos mostrem a cara e então surgem os "representantes", dignos, virulentos, cheios de razão, a dar demonstrações poderosas de preconceito e incompreensão; de ignorância e violência (sim, porque com palavras também podemos ser violentos!); de cegueira e atrazo. Estava eu, no Bar Botteco, em Passo Fundo, tomando um delicioso vinho tinto chileno e o Rodrigo, da Cia. do Tijolo, de São Paulo, me conta do tal discurso da ex-atriz e agora sei-la-o-quê carismática, Myriam Rios, dando os motivos pelos quais iria votar contra a tal Lei Anti-Homofobia. Queria acreditar no que ele me falava mas me parecia tudo muito difícil. Até que vi e ouvi seu discurso no YouTube. Enquanto leio que meu querido Andy Gerker escreve que está cada vez com mais "ódio dessa mulher suja e ignorante!", eu não conseguia esboçar reação diante de um exemplo tão explícito de raciocínio primário, medieval e hipócrita. A sensação que se tem é que, encastelada em seu mundinho fácil e raso, a senhora Myriam Rios desconhece séculos e séculos de pensamento, filosofia, experiências humanas e transformações. A cada vez que associava homossexualidade com pedofilia ela contrapunha o raciocínio despropositado com frases feitas do tipo: "eu respeito a opção sexual alheia, etc e tal". Uma vergonha eleitoreira com o único intuito de arrecadar votos de outros ignorantes, que chega a surpreender pela sem-vergonhice. Lembro de Nelson Rodrigues em suas primeiras confissões, definindo o canalha: "o canalha, quando investido de liderança, faz, inventa, aglutina e dinamiza massas de canalhas. Façam a seguinte experiência - ponham um santo na primeira esquina. Trepado num caixote, ele fala ao povo. Mas não convencerá ninguém, e repito: - ninguém o seguirá. Invertam a experiência e coloquem na mesma esquina, e em cima do mesmo caixote, um pulha indubitável. Instantaneamente, outros pulhas, legiões de pulhas, sairão atrás do chefe abjeto." Isso é o que é a Sra. Myriam Rios, abjeta em suas mal construídas argumentações. E eu penso que é preciso sim, colocar a cara pra fora da porta e peitar esse tipo de manifestação, porque não podemos em pleno 2011, pagar a conta e sair em silêncio. Não é possível admitir uma distorção tão grande que leve ao pensamento de que proteger o direito de ser homossexual é o mesmo que desrespeitar o direito de ser heterossexual. Não é possível admitir que negros e brancos são tipos diferenciados de seres humanos, que homens e mulheres são tipos diferenciados de seres humanos, que heterossexuais e homossexuais são tipos diferenciados de seres humanos. Não podemos admitir que se use a expressão idiota, “opção sexual”, que diminui a condição sexual. Qualquer camarão fossilizado, desde que bem intencionado, sabe que não existe opção sexual, como não existe opção heterossexual. Isso é demagogia de gente que faz da ideia de pecado uma excelente moeda de enriquecimento econômico e busca de poder. E isso é medieval. É construção de pensamento à custa de violência e ódio. Como a Igreja Católica que impôs sua doutrina pela Inquisição. E não foi à toa que a Sra. Myriam Rios terminou seu abilolado discurso com a palavra “ fogo”! Sua alma falou sempre mais forte, mesmo que não tenha a mínima competência para articular corretamente uma frase. É assustador! Há 24 anos eu e meus amigos fomos “convidados” a sair do tal bar na Saldanha Marinho... pois bem, sem qualquer resquício da tal “teoria da conspiração”, é bem capaz de chegar o dia em que, depois de tanta “evolução”, sejamos expulsos a tiros! Credo!

NELSON E SPIELBERG. O QUE UM TEM A VER COM O OUTRO? NADA, ORAS!


Gosto muito do Arthur Xexéo. Nem sempre (mas quase sempre!) concordo com ele, porque acho que ele compreende o mundo da cultura, da arte e dos negócios que envolvem tudo isso com um olho clínico para o que é prazeroso e o que é enganador ou medíocre. Um cara de mil olhos que sabe o que fala. Nos últimos dias ele falou de expressões que o irritam e isso me deixou um pouco ruborizado: "Enfim...", "Na verdade", "Bem...", etc e tal. É comum apoiar-se nelas para começar ou terminar uma frase e volta e meia me pego usando-as como se estivesse sendo muito esperto ou inteligente. São lugar comum jaguara e preguiçoso, sei; mas também, na correria da vida, na necessidade de ir preenchendo os dias com ideias e palavras, muita coisa importante acaba indo para a sexta sessão, a lata do lixo. Escrever não é pra qualquer um e meter-se a tal é sempre um risco. Ainda bem que tem sempre um Xexéo de antenas ligadas para vez ou outra colocar o dedo na ferida. Estou eu, aqui no Rio Grande do Sul, muito frio, pensando como sempre, teatro e personagens. Nelson Rodrigues bate novamente à porta e me encanto com sua liberdade, seu imenso coração e humor. O humanismo de Nelson tem poucos companheiros de literatura dramática e a Cia. da Cidade de Passo Fundo resolveu encará-lo de frente. É um desafio pra todo mundo e mais ainda pra mim porque quanto mais penso que sei dele, menos sei. Vamos indo entre cornos, suicidas, canalhas e envegonhados. Sob o frio, a neve (podem crer!) da Serra Gaúcha, Nelson, pernambucano/carioca surge carnívoro entre os flocos e provoca nossos sentimentos, dando nós cegos em nossas convicções e nos encostando na parede, como quem diz: "E aí, onde é que você se enquadra nisso tudo? E não me venha dizer que está de fora porque eu não acredito!" Como modernista de última página, Nelson afunda-se em si próprio e se desnuda, incitando-nos a tocar o intocável, deslizando, aos trancos e barrancos, pelo óbvio ululante. De teatro para cinema. Como acontece de temporada em temporada, esse 2011 será um ano de Steven Spielberg, um cara que nunca descansa. Estreou na TNT a série produzida por ele, "Faling Skies", onde ETs mais do que malignos resolvem virar nosso conturbado planeta de pernas pro ar. Não é muito original, principalmente se você, como eu, assistiu "Walking Dead" e apaixonou-se (como eu!). No fundo, no fundo, os zumbis foram substituidos pelos extraterrestres e os dramas humanos se apresentam no que tem de mais dolorosos e críticos. Uma fórmula rasteira mas que resulta em algo bom. E "Super 8" que já está chegando por aqui, enquanto nos EUA vai aproximando-se dos 100 milhões de dólares, a marca fatal, que determina o que foi ou não foi um sucesso! Mas o mais surpreendente de Spielberg vai dar as caras no final do ano. Duas direções em um mês de lançamento! O cara é foda! Com Peter Jackson na produção ele conta o Segredo do Unicórnio, nas Aventuras de Tintim, meu personagem preferido nas HQs, quando piá. Criação poderosa do belga Hergé e que era a própria alma do mistério e da aventura. É uma animação saída do live-action e eu espero que seja linda e divertida e não depressiva e brega como as dirigidas pelo equivocado Robert Zemeckis. Mas como não dá ponto sem nó, o velho Steven Spielberg, que vai fazer 65 anos quando os filmes estiverem sendo lançados em dezembro, joga pesado, com "War Horse", a história de um garoto que vai em busca de seu cavalo, mandado para a guerra. Estão todos lá: Janusz Kaminski na fotografia e John Williams na trilha sonora; na produção dois craques: Frank Marshall e Kathleen Kennedy. Todos velhos colaboradores. É o filme para o Oscar e para as bilheterias, dizem. Será? Será que Spielberg vai ganhar mais um? O filme é baseado num livro de Michael Morpurgo e, transformado em peça teatral, estourou em Londres e na Broadway, abocanhando semanas atrás os Tonys de Melhor Espetáculo e Melhor Direção. A peça é um primor de imaginação e uso de marionetes e o trailer do filme tem todos os elementos épicos e emocionantes que fizeram a fama do cara, como por exemplo, em "Império do Sol". Lágrimas à vista e a esperança de dois Spielbergs em boa forma! Dezembro vai ser quente!

sábado, 25 de junho de 2011

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Qual seu filme preferido de...?

Clint Eastwood.

"Os Imperdoáveis/Unforgiven", de 1992, disparado! Meu amigo Mauricio Cidade, quando o assistiu disse que merecia todos os Oscars: filme, diretor, ator, atriz, ator coadjuvate, atriz coadjuvante, etc.. e todos para o Clint!
E em segundo lugar, "Mystic River/Sobre Meninos e Lobos", de 2003. O que não quer dizer que eu não tenha assistido hoje, na TNT, dublado, a "Cowboys do Espaço", de 2000 e não tenha me deliciado com a fluência, o bom humor, a veteranice e a inteligência. Clint é o máximo e brinca, sério ou dramático, com qualquer gênero!!!
E os seus...?

terça-feira, 21 de junho de 2011

AINDA AGARRO ESTA VIZINHA



O que vai ficar de Wilza Carla, para toda a nossa geração, ela que faleceu ontem aos 75 anos, é a Dona Redonda explodindo no meio da praça na novela Saramandaia, de Dias Gomes (ah, os bons tempos!). Sim, e outros lembrarão sempre da jurada do programa Silvio Santos, mas eu, que sou um maluco por cinema e que durante muito tempo fiz da pornochanchada o reduto erótico da imagem proibida, já que sou da geração censura, tenho dela uma lembrança poderosa. O filme? "Ainda Agarro Esta Vizinha", de 1974, dirigido por Pedro Carlos Rovai, com Cecil Thiré debochado e malandro, num roteiro de ninguém menos que Oduvaldo Vianna Filho. Assisti a este filme no extinto (toda a minha memória vai sendo extinta!) Cine Avenida.Era um deboche só. Uma balburdia a lá balança mas não cai e uma confusão num edifício em Copacabana onde acontece de tudo. Uma comédia de costumes erótica, mas, além disso, viva em sangue e ironia, papagaiada e vontade de gritar bem alto que a vida é cheia de caos e busca pelo prazer e que somos todos uns confusos atabalhoados. Eram seios e cuecas pra todo lado e confusão paspalhona, e onde só faltava mesmo era torta na cara. E eu, começando meus olhares para o cinema, reconhecendo a necessidade do sexo meio à mostra (e escondido) que salvava o cinema brasileiro, enxergava algo de felliniano na cena emblemática de Wilza Carla, balofa e escandalosa, descendo o edifício pelo lado de fora, montada num sofá, tendo ao lado um Cecil Thiré de cueca, com cara de pateta, tentando sobreviver a um Brasil autoritário, careta, censor e violento. Com toda a sua sem-vergonhice bobinha, a pornochanchada era abençoada e libertária, e salvou toda uma geração que, pelo menos, tinha onde se masturbar. E "Ainda Agarro Esta Vizinha" ainda tinha a preseça luminosa de Adriana Prieto (a vizinha!), aos 24 anos e que morreria um ano depois num trágico acidente. Mas não é bem disso tudo que falo. Na verdade presto aqui minha homenagem a Wilza Carla, uma de nossas eternas vedetes, daquelas todas que enfeitaram a cultura de nossa malemolência e malandrice, daquelas que nunca tiveram vergonha de nossas carnes e escancararam, até por necessidade histórica, nossa gênese tropical. Entre tantas imagens cinematográficas das mais raras e originais, como o guerreiro jogando xadrez com a morte em "O Sétimo Selo" ou Gene Kelly dançando na chuva, sempre guadarei na memória a maravilhosa Wilza, escrachada e de pelancas à mostra, descendo o edifício balança mas não cai, por aquele sofá pendurado como um piano desafinado. Desafinado como a vida.


segunda-feira, 20 de junho de 2011

BACK TO THE PAST!


Drew Struzan é uma lenda. Nas décadas de 70/80 foi responsável por alguns dos cartazes mais emblemáticos do cinema pipoca reinventado por George Lucas e Steven Spelberg. São clássicos seus olhares para "Caçadores da Arca Perdida", "De Volta Para o Futuro" e "Guerra Nas Estrelas", mas ele também encarregou-se de dar alma juvenil a "Harry Potter", "Hellboy", "Loucademia de Polícia", "A Coisa" e "Crocodilo Dundee". É um gênio da comunicação gráfica. Hoje, aos 64 anos é reverenciado e volta e meia alguém lhe presta homenagens mais do que justas. Agora o novo filme de J. J. Abrams, "Super 8" (73 milhões de dólares em 10 dias em cartaz nos EUA), um passeio aventuroso pelo universo spielberguiano (em forma e conteúdo), também brinca com o tempo nas portas dos cinemas com um cartaz que é pura visita ao traço de Drew. É um cartaz nostálgico e lindo, onde a sobreposição de situações e personagens remete ao universo de pura fantasia e irrealidade.


domingo, 19 de junho de 2011

A APOSTA FINAL



Cada vez a temporada blockbuster americana começa mais cedo e termina mais tarde. E cada vez os lançamentos de acumulam provocando engarrafamentos perigosos. Ou um filme dá conta do recado no final de semana em que é lançado ou vai ser atropelado por outro big lançamento na semana seguinte. Filmes de apelo mais profundo, sem grandes esparramos visuais e que apostam em outro tipo de fascínio podem dançar feio. "X-Men - First Class" e "Super 8" não estão indo mal nas bilheterias, muito pelo contrário, mas com certeza geraram uma expectativa maior, Mas como concorrer com "Piratas do Caribe", "Kung Fu Panda", "Cars" e " Transformers"? Em outras palavras, virem-se! Neste 2011 de super-heróis que não negaram fogo, embora o Lanterna Verde tenha sido destruído pela crítica americana, uma nova experiência com um dos filmes mais charmosos de todos os tempos vale a curiosidade: "O Planeta dos Macacos". Lembro quando assisti ao primeiro filme (já uma reprise) no extinto (como todos!) Cine São João. Impressionava, encantava, assustava e a cena final era, realmente, um sucesso. E tinha Charlton Heston, o eterno salvador da humanidade! Assisti a todos os remakes e o segundo era. disparado, o pior (De Volta ao Planeta dos Macacos/1970/Ted Post). Ruim de doer. Mas, no Cine Vitória assisti a "Fuga do Planeta dos Macacos/1971/Don Taylor), muito, muito interessante. E, como o primeiro, tinha a figura encantadora de Kim Hunter (1922/2000), vivendo a macaca Zira; ela que tinha ganho o Oscar de Atriz Coadjuvante em 1952, vivendo Stella em "Um Bonde Chamado Desejo". O universo dos macacos sempre foi tão interessante que virou série de televisão e até desenho animado, produzido por uma lenda das animações: Fritz Freleng. Depois Tim Burton arriscou-se a uma refilmagem em 2001. Parecia a escolha certa pelo universo estanho do grande diretor. O resultado foi um parangolé espalhafatoso praticamente sem pé nem cabeça, que se salvava pela presença assustadora de Tim Roth, vivendo o General Thade, uma super performance por trás da maquiagem. E a 20th Century Fox, dona da bola. resolveu em 2011 arriscar um novo filme: "Rise Of The Planet Of The Apes", dirigido por um tal Ruppert Wyatt e com James Franco, o mocinho da vez. É o último blockbuster do ano. Depois dele entra a temporada de outono, onde as experiências para o Oscar começam a dar as caras. O universo é mágico, divertido e provocador. O que esperar? Tudo. Principalmente porque o trailer é o melhor do ano, embora não queira dizer nada. Os efeitos são da Weta de Peter Jackson e o olhar do macaco que vai botar pra f... é assustador de tão humano! Talvez a temporada do verão americano feche as portas com chave de ouro. Talvez...


sábado, 18 de junho de 2011

COMO UM SONHO DE ARTISTA...


Woody Allen aos 75 anos percebeu (na verdade já há alguns anos!) que o tempo é apenas uma ideia e que tudo é efêmero, inclusive o cinema. As coisas só são eternas dentro de nós e enquanto as amamos. Todo o resto é ilusão. E que, de todas as ilusões, a mais eterna e a que mais dá sentido à vida, apesar do tempo, é a arte. E depois dela o amor, que é tão ilusório e efêmero quanto o tempo. Poucos diretores refletem sobre a própria arte e o significado dela em sua vida (não apenas a cinematográfica) com tamanha coragem. Em “Tiros na Broadway” o autor/diretor, em uma cena final belíssima, reconhecia que não era um artista e o melhor que podia fazer para o mundo e para si mesmo era seguir seu coração, viver seu amor e conhecer-se sem medo de ser humano e falível. E que o mundo não desmoronaria sobre sua cabeça se fosse viver outra profissão, já que não tinha determinação nem originalidade para ser um verdadeiro artista. E o que são verdadeiros artistas? Seres que passam pela vida, dão importância à coisas difíceis de definir e tocar, que seguem suas intuições nem sempre lógicas e que amam acima de tudo. Amam palavras, cores, imagens e fazem da vida uma aventura contraditória e paradoxal, porque importante mesmo é o que não pode ser compreendido com lógicas, nem explicado com palavras.  “Midnight In Paris”, o novo filme de Woody Allen, é um efêmero milagre sobre o tempo e o amor. Uma pequena jóia paradoxal que reflete sobre o prazer de estar vivo, de criar, imaginar, iludir-se com tudo o que dá prazer e, principalmente, sobre a importância do presente. E para isso, o velho e querido Woody vai ao passado apenas porque pode e quer, e dá ao cinema o direito de não ser nada e ainda assim, ser tudo. Guardando as devidas proporções, com a mesma liberdade que um dia nos deu “Fellini 8. ½” ou “O Ano Passado em Marienbad”, por exemplo! O milagre metafórico e cinematográfico de voltar no tempo, que acontece em “Midnight In Paris” é um, tão mágico quanto o que vivemos (se queremos!) em nosso fugaz dia a dia. Afinal não visitamos Machado de Assis em pessoa, quando lemos “Dom Casmurro”? Ou Luis Buñuel e seu melhor quando assistimos em casa ou na cinemateca a “O Anjo Exterminador”? Mas que “nós” é esse? O “nós” que ama o que é profundamente artístico. O “nós” que enxerga alhos e bugalhos em “Hannah e Suas Irmãs”, só pra dar uma pincelada. Woody Allen passeia carinhosamente pela beleza das coisas que só são belas porque nós vemos beleza nelas. Como a chuva, por exemplo. Ou uma música que descaradamente diz “os jaburus no Pará, fazem... tico-ticos no fubá fazem...”, na versão cantada por Elza Soares e Chico Buarque, de Cole Porter. E há os que amam a arte e preferem ficar com Cole Porter. Por que, não? E os que amam a arte da mesma maneira e preferem viver perigosamente o seu tempo, ainda assim amando o que já passou. Por quê? Porque como eram charmosos e inteligentes, e como ainda o são os artistas! Criativos e apaixonados! Românticos e inocentes! Porque o artista é antes de tudo, um inocente que agarra-se ao efêmero e ilusório como o único galho capaz de impedir a queda real para o precipício. E sabendo e fazendo de conta que não sabe, que o galho também é ilusório, assim como o precipício. Woody Allen com “Midnight In Paris” fez um dos filmes mais encantadores dos últimos tempos, mais livres e mais modernos. Mas que moderno é esse? O moderno que revolucionou a arte, que fez da transgressão, da dissidência, da loucura, da imoralidade e do incêndio o alimento para ela nova, a arte. Mas isso já não é antigo? Já não se estuda na academia? Que importa?  A defesa intransigente da autonomia humana é também um alimento da modernidade. Então que cada um agarre-se ao tempo e à arte que lhe inspira mais amor, porque, afinal de contas, tudo não é apenas ilusório como o tempo? E tão efêmero! Em “Midnight In Paris” muitos atores que eu amo passeiam brincando e dançando pelos planos e sequências, como Kathy Bates, Marion Cotillard, Adrien Line e Tom Hiddleston; mas incrível e surpreendente mesmo é a interpretação carinhosa e precisa de Owen Wilson, que dá a medida perfeita (cheio de tiques woodyaleanos) da inocência e da paixão de que pensei aí pra trás. E esse senhor, Woody Allen, aos 75 anos, dá uma demonstração poderosa de fôlego, liberdade, paixão e arte com seu novo filme. E todos saem do cinema com um largo sorriso escancarado na face. Pelo menos aqueles que conhecem o sabor da paixão e sabem que o filme acabou, mas que por ser intocável, ilusório e efêmero, é melhor; e que será eterno enquanto fizer cócegas no cérebro e acelerar o coração. Aí, que lindo!!!

quinta-feira, 16 de junho de 2011

PAPO NA MADRUGADA...

A Eloise Grein postou uma música do filme “Moulin Roluge”, com o Ewan Mcgregor cantando “Your Song”(lindoooo!!!), com a legenda “Beautiful” – Iniciou-se um papo curioso...

Edson Bueno: Moulin Rouge poderia ter sido um filme fenomenal, fundamental e determinante... além de todas as suas incríveis qualidades... jamais poderia ter terminado mal... enfim...
Eloise Grein:  Mas daí, quem sabe, com um final feliz, não fosse tudo isso que você falou! Detestei o final também...rs...mas ele ressuscitou o gênero "musical" que tava meio caidinho né...de uma forma inusitada pois o final NÃO foi feliz, como geralmente é nos outros musicais...
Edson Bueno: Só uma questão de opinião. Não gosto de musical com final que não é feliz. Acho que o único motivo para uma história acabar mal é o didático. Fora disso é melodrama!
Eloise Grein: Verdade. Me debulhei em lágrimas no final! Rs. Podia ter aparecido um médico com uma cura pra doença dela...mas ficou na Dama das Camélias...rs
Edson Bueno: Ou a Fada Sininho, que teria mais lógica com o filme! Seria lindo! Interpretada pela Anne Hathaway. Chegava, inclusive, cantando... seria fantástico! O filme ficaria para a história!
Eloise Grein: Você pode mudar o final na sua cabecinha, se quiser...melhor assim, com a Fada Sininho mesmo...também nunca gostei do final de Romeu e Julieta, fazer o quê...foi daí que comecei a acreditar em destino e fatalidade...por que aquele cara não conseguiu entregar a carta pro Romeu??? Enfim... Baz  Luhrman queria chocar de várias formas, até pelo inusitado final fatalista... como sua versão de Romeu e Julieta, obviamente... ele curte isso!
Edson Bueno: O Baz Luhrman é um sacana!
Eloise Grein: kkkk...e vai continuar sendo....vai filmar O Grande Gatsby com o Leonardo DiCaprio, que também não tem final feliz, ao que me consta...Sabe um outro filme cujo final eu detestei? The Way We Were (Nosso Amor de Ontem) com o Robert Redford e a Barbra Streisand...pow, não ficaram juntos...não me conformei quando vi...choro até hoje quando escuto a música, que adoro, por sinal...rs
Edson Bueno: Mas O GRANDE GATSBY (eu acho!) não vai ser musical. E eu não assisti THE WAY WE WERE porque 'não é do meu tempo.
Eloise Grein: Já ouviu falar em DVD????!!!! rs Também vi Cidadão Kane somente em DVD, fazer o quê...rs
Edson Bueno: CIDADÃO KANE não é do teu tempo?
Eloise Grein: Vou confessar, É SIM...tinha um cinema lá perto de casa e eu com apenas 6 aninhos já entrava e ficava na cabine de projeção vendo todos os filmes...uma maravilha!! rs Pois foi na minha história de vida que o Giuseppe Tornatore se baseou pra fazer Cinema Paradiso, caso você não saiba...fiquei muito honrada com a homenagem!
Edson Bueno: Acho que você já me contou disso. O Tornatore passou tudo para o masculino e o teu papel era interpretado pelo Philip Noiret. Não?
Eloise Grein: É, é, é é...Não!!! O Philip Noiret era o projecionista, acho...rs...ai chega, só porque cê é bom de escrita começa a dar nó na minha cabecinha...deixa pra lá, fico ruborizada com essas homenagens..kkk.  Mudando, um passarinho verde me contou que adorou sua palestra hoje lá na UFPR pro pessoal da pós-graduação... que legal!! “Edson Bueno é a memória viva do teatro paranaense”, foi o que a Célia Arns me disse... parabéns! E boa noite! Beijinho!
Edson Bueno: Em outras palavras... Edson Bueno é um museu ambulante e falante... rs... Buenas...!!!!

quarta-feira, 15 de junho de 2011

NOVO WOODY NA CIDADE! VIVAAAA!!!


Amanhã estreia o novo, aclamado, super sucesso, elogiado, admirado e festejado filme do velho Woody Allen: “Midnight In Paris”! Com Marion Cotillard, Kathy Bates e Tom Hiddleston! Claro, vou estar firme e forte na sessão das 11h10, no Cinemark do Muller, porque uma vez por ano, filme bom, médio ou ruim, sempre tenho um encontro com meu diretor preferido.  Uma nota: o cartaz original é tão inteligente e criativo. Por que a Paris Filmes, distribuidora do filme no Brasil, escolheu uma arte tão insossa? Tão banal? Tão sem graça?

UM JACK SPARROW COM COMPLEXO DE INDIANA JONES...


Vale registrar aqui que adorei o primeiro filme da franquia “Piratas do Caribe”. Perdi a conta das vezes em que o assisti só nos cinemas. E que odiei o segundo. Mas odiei tanto que apesar de algumas recomendações nunca assisti ao terceiro. Só uma cena aqui, outra ali, em algumas de suas exibições nos canais a cabo. E esse quarto? “Navegando em Águas Misteriosas”? Bem, assim, por puro descuido, lá fui eu assisti-lo. E em 3D! Não é ruim como imaginei, só não é divertido nem emocionante, porque até na maior das maiores bobagens, o que faz a coisa ter graça é a complexidade dos personagens. Essa é a fórmula que os americanos conhecem bem, mas às vezes têm preguiça de desenvolver e sabem que não é, absolutamente, o que determina a bilheteria. É só uma questão de qualidade, mas quem precisa dela? E o Jack Sparrow? Ficou reduzido ao bobo da corte perdido na ideia estranhíssima de que a sua única graça está num certo palavrório autodepreciativo e numa espécie de cafajestice que acaba levando a um tipo esquisito de redenção por conta de alguma necessidade de que tenha a quinta, a sexta ou a sétima continuação. Afinal, só este quarto exemplar já rendeu 887 milhões de dólares mundo afora. Não são cifras para se desconsiderar. Como Indiana Jones procurava a arca perdida ou o cálice sagrado, Jack Sparrow parte em busca da fonte da juventude, que por sinal inclui dois cálices e alguma fantasia, digamos assim, pinçados de alguma cartilha mitológica. Dos três primeiros mudou o diretor (Gore Verbinski) e dá pra dizer que é uma mudança significativa. Se o ritmo cai por conta de um palavrório meio “não sabemos para onde estamos indo”, pelo menos não há tanta histeria a ponto de se perder o fio da meada, a praga que contaminou a franquia, e volta e meia assola grandes possibilidades (vide “Homem Aranha 3”, de Sam Raimi).  Rob Marshall (“Chicago”, “Nine”), o novo diretor, é um esteta. Cria planos belíssimos e compõe os quadros numa busca pictórica de beleza que até engana, principalmente graças ao 3D. Mas se tem senso de beleza clássica, não tem muito sentido de aventura, nem de espetáculo. O que sobra a Spielberg e a Peter Jackson, por exemplo, falta demais ao apolíneo Rob Marshall. E o roteiro simplista, no sentido de que “saímos daqui e vamos para lá, enfrentando perigos pelo caminho, na busca de um tesouro que obviamente será encontrado, mas não usado nem abusado”, se dá conta da historinha, sacaneia brutalmente o querido Johnny Depp. Insere dois piratas bandidos interpretados por dois monstros (Geoffrey Rush e Ian McShane), que simplesmente engolem o filme e dão altas lições de interpretação aos coadjuvantes e ao protagonista desavisado.. Pobre Jack, reservaram-lhe apenas algumas correrias e meia dúzia de piadinhas. E Penélope Cruz? Linda, charmosa e tempestuosa, mas que perde fácil pra qualquer sereia metade gente, metade efeito especial. “Piratas do Caribe – Navegando em Águas Misteriosas” não enche o saco, mas também não faz cócegas no cérebro, não desopila o fígado, nem faz você sentir-se num parque de diversões. É só um filminho cheio de ideias que você já viu dezenas de vezes em outros melhores e ainda vai rever em 2D ou 3D em mais uma dezenas de outros.