quinta-feira, 30 de junho de 2011

NELSON E SPIELBERG. O QUE UM TEM A VER COM O OUTRO? NADA, ORAS!


Gosto muito do Arthur Xexéo. Nem sempre (mas quase sempre!) concordo com ele, porque acho que ele compreende o mundo da cultura, da arte e dos negócios que envolvem tudo isso com um olho clínico para o que é prazeroso e o que é enganador ou medíocre. Um cara de mil olhos que sabe o que fala. Nos últimos dias ele falou de expressões que o irritam e isso me deixou um pouco ruborizado: "Enfim...", "Na verdade", "Bem...", etc e tal. É comum apoiar-se nelas para começar ou terminar uma frase e volta e meia me pego usando-as como se estivesse sendo muito esperto ou inteligente. São lugar comum jaguara e preguiçoso, sei; mas também, na correria da vida, na necessidade de ir preenchendo os dias com ideias e palavras, muita coisa importante acaba indo para a sexta sessão, a lata do lixo. Escrever não é pra qualquer um e meter-se a tal é sempre um risco. Ainda bem que tem sempre um Xexéo de antenas ligadas para vez ou outra colocar o dedo na ferida. Estou eu, aqui no Rio Grande do Sul, muito frio, pensando como sempre, teatro e personagens. Nelson Rodrigues bate novamente à porta e me encanto com sua liberdade, seu imenso coração e humor. O humanismo de Nelson tem poucos companheiros de literatura dramática e a Cia. da Cidade de Passo Fundo resolveu encará-lo de frente. É um desafio pra todo mundo e mais ainda pra mim porque quanto mais penso que sei dele, menos sei. Vamos indo entre cornos, suicidas, canalhas e envegonhados. Sob o frio, a neve (podem crer!) da Serra Gaúcha, Nelson, pernambucano/carioca surge carnívoro entre os flocos e provoca nossos sentimentos, dando nós cegos em nossas convicções e nos encostando na parede, como quem diz: "E aí, onde é que você se enquadra nisso tudo? E não me venha dizer que está de fora porque eu não acredito!" Como modernista de última página, Nelson afunda-se em si próprio e se desnuda, incitando-nos a tocar o intocável, deslizando, aos trancos e barrancos, pelo óbvio ululante. De teatro para cinema. Como acontece de temporada em temporada, esse 2011 será um ano de Steven Spielberg, um cara que nunca descansa. Estreou na TNT a série produzida por ele, "Faling Skies", onde ETs mais do que malignos resolvem virar nosso conturbado planeta de pernas pro ar. Não é muito original, principalmente se você, como eu, assistiu "Walking Dead" e apaixonou-se (como eu!). No fundo, no fundo, os zumbis foram substituidos pelos extraterrestres e os dramas humanos se apresentam no que tem de mais dolorosos e críticos. Uma fórmula rasteira mas que resulta em algo bom. E "Super 8" que já está chegando por aqui, enquanto nos EUA vai aproximando-se dos 100 milhões de dólares, a marca fatal, que determina o que foi ou não foi um sucesso! Mas o mais surpreendente de Spielberg vai dar as caras no final do ano. Duas direções em um mês de lançamento! O cara é foda! Com Peter Jackson na produção ele conta o Segredo do Unicórnio, nas Aventuras de Tintim, meu personagem preferido nas HQs, quando piá. Criação poderosa do belga Hergé e que era a própria alma do mistério e da aventura. É uma animação saída do live-action e eu espero que seja linda e divertida e não depressiva e brega como as dirigidas pelo equivocado Robert Zemeckis. Mas como não dá ponto sem nó, o velho Steven Spielberg, que vai fazer 65 anos quando os filmes estiverem sendo lançados em dezembro, joga pesado, com "War Horse", a história de um garoto que vai em busca de seu cavalo, mandado para a guerra. Estão todos lá: Janusz Kaminski na fotografia e John Williams na trilha sonora; na produção dois craques: Frank Marshall e Kathleen Kennedy. Todos velhos colaboradores. É o filme para o Oscar e para as bilheterias, dizem. Será? Será que Spielberg vai ganhar mais um? O filme é baseado num livro de Michael Morpurgo e, transformado em peça teatral, estourou em Londres e na Broadway, abocanhando semanas atrás os Tonys de Melhor Espetáculo e Melhor Direção. A peça é um primor de imaginação e uso de marionetes e o trailer do filme tem todos os elementos épicos e emocionantes que fizeram a fama do cara, como por exemplo, em "Império do Sol". Lágrimas à vista e a esperança de dois Spielbergs em boa forma! Dezembro vai ser quente!

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