quarta-feira, 15 de junho de 2011

UM JACK SPARROW COM COMPLEXO DE INDIANA JONES...


Vale registrar aqui que adorei o primeiro filme da franquia “Piratas do Caribe”. Perdi a conta das vezes em que o assisti só nos cinemas. E que odiei o segundo. Mas odiei tanto que apesar de algumas recomendações nunca assisti ao terceiro. Só uma cena aqui, outra ali, em algumas de suas exibições nos canais a cabo. E esse quarto? “Navegando em Águas Misteriosas”? Bem, assim, por puro descuido, lá fui eu assisti-lo. E em 3D! Não é ruim como imaginei, só não é divertido nem emocionante, porque até na maior das maiores bobagens, o que faz a coisa ter graça é a complexidade dos personagens. Essa é a fórmula que os americanos conhecem bem, mas às vezes têm preguiça de desenvolver e sabem que não é, absolutamente, o que determina a bilheteria. É só uma questão de qualidade, mas quem precisa dela? E o Jack Sparrow? Ficou reduzido ao bobo da corte perdido na ideia estranhíssima de que a sua única graça está num certo palavrório autodepreciativo e numa espécie de cafajestice que acaba levando a um tipo esquisito de redenção por conta de alguma necessidade de que tenha a quinta, a sexta ou a sétima continuação. Afinal, só este quarto exemplar já rendeu 887 milhões de dólares mundo afora. Não são cifras para se desconsiderar. Como Indiana Jones procurava a arca perdida ou o cálice sagrado, Jack Sparrow parte em busca da fonte da juventude, que por sinal inclui dois cálices e alguma fantasia, digamos assim, pinçados de alguma cartilha mitológica. Dos três primeiros mudou o diretor (Gore Verbinski) e dá pra dizer que é uma mudança significativa. Se o ritmo cai por conta de um palavrório meio “não sabemos para onde estamos indo”, pelo menos não há tanta histeria a ponto de se perder o fio da meada, a praga que contaminou a franquia, e volta e meia assola grandes possibilidades (vide “Homem Aranha 3”, de Sam Raimi).  Rob Marshall (“Chicago”, “Nine”), o novo diretor, é um esteta. Cria planos belíssimos e compõe os quadros numa busca pictórica de beleza que até engana, principalmente graças ao 3D. Mas se tem senso de beleza clássica, não tem muito sentido de aventura, nem de espetáculo. O que sobra a Spielberg e a Peter Jackson, por exemplo, falta demais ao apolíneo Rob Marshall. E o roteiro simplista, no sentido de que “saímos daqui e vamos para lá, enfrentando perigos pelo caminho, na busca de um tesouro que obviamente será encontrado, mas não usado nem abusado”, se dá conta da historinha, sacaneia brutalmente o querido Johnny Depp. Insere dois piratas bandidos interpretados por dois monstros (Geoffrey Rush e Ian McShane), que simplesmente engolem o filme e dão altas lições de interpretação aos coadjuvantes e ao protagonista desavisado.. Pobre Jack, reservaram-lhe apenas algumas correrias e meia dúzia de piadinhas. E Penélope Cruz? Linda, charmosa e tempestuosa, mas que perde fácil pra qualquer sereia metade gente, metade efeito especial. “Piratas do Caribe – Navegando em Águas Misteriosas” não enche o saco, mas também não faz cócegas no cérebro, não desopila o fígado, nem faz você sentir-se num parque de diversões. É só um filminho cheio de ideias que você já viu dezenas de vezes em outros melhores e ainda vai rever em 2D ou 3D em mais uma dezenas de outros.

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