terça-feira, 21 de junho de 2011

AINDA AGARRO ESTA VIZINHA



O que vai ficar de Wilza Carla, para toda a nossa geração, ela que faleceu ontem aos 75 anos, é a Dona Redonda explodindo no meio da praça na novela Saramandaia, de Dias Gomes (ah, os bons tempos!). Sim, e outros lembrarão sempre da jurada do programa Silvio Santos, mas eu, que sou um maluco por cinema e que durante muito tempo fiz da pornochanchada o reduto erótico da imagem proibida, já que sou da geração censura, tenho dela uma lembrança poderosa. O filme? "Ainda Agarro Esta Vizinha", de 1974, dirigido por Pedro Carlos Rovai, com Cecil Thiré debochado e malandro, num roteiro de ninguém menos que Oduvaldo Vianna Filho. Assisti a este filme no extinto (toda a minha memória vai sendo extinta!) Cine Avenida.Era um deboche só. Uma balburdia a lá balança mas não cai e uma confusão num edifício em Copacabana onde acontece de tudo. Uma comédia de costumes erótica, mas, além disso, viva em sangue e ironia, papagaiada e vontade de gritar bem alto que a vida é cheia de caos e busca pelo prazer e que somos todos uns confusos atabalhoados. Eram seios e cuecas pra todo lado e confusão paspalhona, e onde só faltava mesmo era torta na cara. E eu, começando meus olhares para o cinema, reconhecendo a necessidade do sexo meio à mostra (e escondido) que salvava o cinema brasileiro, enxergava algo de felliniano na cena emblemática de Wilza Carla, balofa e escandalosa, descendo o edifício pelo lado de fora, montada num sofá, tendo ao lado um Cecil Thiré de cueca, com cara de pateta, tentando sobreviver a um Brasil autoritário, careta, censor e violento. Com toda a sua sem-vergonhice bobinha, a pornochanchada era abençoada e libertária, e salvou toda uma geração que, pelo menos, tinha onde se masturbar. E "Ainda Agarro Esta Vizinha" ainda tinha a preseça luminosa de Adriana Prieto (a vizinha!), aos 24 anos e que morreria um ano depois num trágico acidente. Mas não é bem disso tudo que falo. Na verdade presto aqui minha homenagem a Wilza Carla, uma de nossas eternas vedetes, daquelas todas que enfeitaram a cultura de nossa malemolência e malandrice, daquelas que nunca tiveram vergonha de nossas carnes e escancararam, até por necessidade histórica, nossa gênese tropical. Entre tantas imagens cinematográficas das mais raras e originais, como o guerreiro jogando xadrez com a morte em "O Sétimo Selo" ou Gene Kelly dançando na chuva, sempre guadarei na memória a maravilhosa Wilza, escrachada e de pelancas à mostra, descendo o edifício balança mas não cai, por aquele sofá pendurado como um piano desafinado. Desafinado como a vida.


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